terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

AS OITO ROSAS


Eram oito rosas reunidas. O dia estava perfeito: sol e calor! O que mais uma rosa poderia querer?
            Tinha rosa com pétalas amarelas, brancas, pretas e mechadas.
            Tinha rosa de todas as idades: de trinta a oitenta anos. Tinha desde a rosa exuberante por sua longa experiência de vida até a rosa novata e aprendiz.
            Tinha rosa avó, rosa mãe, rosa madrasta e rosa tia.
            Tinha rosa solteira, casada, separada, viúva e rosa namorada.
            Tinha rosa cozinheira, psicóloga, professora, funcionária pública, do lar, aposentada, artesã, pintora, tradutora, artista e política.
            Todas tinham algo em comum: o sorriso e o amor pela literatura!
            Tudo começou porque a rosa mais nova estava triste, pois percebera que o tempo ia passando rapidamente, ela se envolvia com afazeres diversos e não estava mais se encontrando com as outras rosas. Então resolveu chamar as rosas-amigas para uma reunião festiva com café, tapioca e muita conversa boa.
            A rosa anfitriã, afável e cordial como lhe era peculiar, conseguiu que todas as rosas se sentissem como se estivessem em seu próprio jardim! Decorou com muito carinho a mesa do lanche com as cores da Inglaterra: vermelho, azul e branco. Essas cores predominavam nas toalhas, nas louças, nos arranjos florais, nas cadeiras e até nos guardanapos e nos cartões com os nomes de cada rosa. Uniu elegância e simplicidade; graciosidade e singeleza; exuberância e candura.
            Às quatro horas da tarde do sábado, as rosas foram chegando. Cada uma trazia um “agradinho” para o lanche: queijo, doce de leite, chocolate, morangos, etc.
            A rosa psicóloga trouxe para a rosa anfitriã um lindo tapete de crochê confeccionado por ela mesma. Outra trouxe arranjos em origami. E todas chegavam com livros de sua autoria para trocar entre elas.
            Assim que todas chegaram, a rosa anfitriã pegou uma placa que estava na parede e mostrou para lerem. Todas aprovaram com muita alegria. Na placa estava escrito: proibido falar sobre religião e política.
            Após muitas gargalhadas, a reunião festiva prosseguiu.
            Nem todas as oito rosas se conheciam pessoalmente, claro. Algumas se conheciam apenas pela internet, mas a alegria reinava como se amigas de infância fossem. Às vezes conheciam a obra, mas não conheciam a autora! E esse encontro era a oportunidade que faltava para saber quem é ou pelo menos ter uma noção da rosa-autora.
            Todas as rosas falavam entre si, conversavam sobre tudo, desde artesanato, culinária, maquiagem e família, até relacionamentos conjugais, sexo, depressão e suicídio. E como não poderia faltar num encontro de rosas-escritoras, falaram em livros, capítulos, prefácio, editoras, etc.
            Nessa festa apareceu até um cravo! Mas esse cravo não brigou com a rosa como na cantiga popular infantil. Era um cravo estrangeiro e como ele não entendia muito bem a língua portuguesa, não se escandalizou com as conversas que ouviu!
            Ao lado da mesa do lanche, foi preparada outra onde foram colocadas as obras literárias para a troca entre as rosas. Após escolher o livro, cada rosa-leitora dirigia-se até a rosa-autora  para a sessão de dedicatória, além da apresentação de vários projetos literários das rosas poderosas e criativas, tudo registrado com fotos feitas pelo gentil cravo.
            No final, todas as sorridentes rosas reuniram-se num glamoroso e colorido ramalhete. Ou num jardim? Ah! Não importa! O que interessa é que estava tudo perfeito!


Simone Possas
(escritora gaúcha de Rio Grande-RS,
membro da Academia de Letras do Brasil/MS, ocupando a cadeira 18,
membro correspondente da Academia Riograndina de Letras,
membro da UBE/MS – União Brasileira de Escritores,
autora dos livros MOSAICO,  A MULHER QUE RI, PCC e O PROMOTOR
graduada em Letras pela UCDB,
pós-graduada em Literatura,
contista da Revista Criticartes,
blog: simonepossasfontana.wordpress.com)


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