quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O menino que não precisava de ordens

Por Thaize Soares Oliveira
Dourados, MS, Brasil

Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão.
(Provérbios 17. 17)

Alguns psicólogos como Augusto Cury afirmam que um dos segredos para a felicidade é contemplar o belo. Uma flor, um pôr-do-sol, um sorriso, um gesto. E para a minha surpresa, eu pude contemplar algo belo em uma situação inesperada. 
Certa vez, eu fui juntamente com um grupo de pessoas a uma casa onde morava um casal com três filhos pequenos, dois meninos e uma menina. A situação estava muito difícil, o emprego do marido não pagava tão bem, a esposa não podia trabalhar ainda, viviam de aluguel e todo mundo sabe os gastos que uma criança traz, ainda mais três. 
Eu sei o que é passar dificuldades, minha infância foi um pouco difícil devido à escassez de recursos. Enfrentamos o desemprego, a falta de dinheiro e etc. E se tem uma coisa que eu me lembro com carinho é do prazer de poder saborear uma bolacha recheada. Na época, era muito caro para nós, eu sabia que para comer outra bolacha eu iria esperar no mínimo mais um mês, por isso, eu comia devagar, lentamente, pensando naquele recheio e naquela “crocância”. E pizza? Fui comer quando já estava na adolescência... 
Mas voltando a família do segundo parágrafo.
Uma das mulheres visitantes levou um pacote de bolacha recheada a uma das crianças da casa, um menino, e para minha surpresa, ele abriu ali, na frente de todos. “Eis uma coisa que eu não faria”, logo pensei, “ela não tem noção de quando vai poder comer de novo, se abrir aqui e agora vai ter que divid...”
- Você quer uma? Perguntou o menino à uma criança visitante.
- Sim, eu quero. Ela respondeu pegando uma bolacha.
Se tem uma coisa em que eu sou perita, além de hambúrgueres, é bolacha recheada. Aquela bolacha era simples, a menina talvez já tivesse experimentado outras bolachas muito mais saborosas. Mas, mesmo assim, ela topou dividir aquele momento com ele.
Detalhe: nenhum adulto disse ao menino “Ofereça a bolacha!”, como certamente teriam que fazer comigo. E nenhum adulto disse à menina “aceite, por educação!”, isso não teriam que fazer comigo.
Os dois foram cúmplices sem nenhum esforço. 
Isso só mostra que o lugar mais “certeiro” para contemplar o belo é na simplicidade. Manoel de Barros já dizia “Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”. E de encantamento as crianças entendem muito bem.

Contato: thaize_oliveira123@outlook.com

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