Boa tarde, assinante e colaborador do RelevO. Na circular de hoje, quatro notas mais diretas que recado de mãe colado na geladeira.
RelevO no azul (ou quase)? No fim de junho, lançamos o recado mais sincero e amedrontador (para nós) da história do Jornal: o aumento da assinatura básica de R$ 70 para R$ 80, somado ao aumento nas demais categorias — e a resposta nos surpreendeu. Recebemos uma onda de apoio, carinho e, o mais importante, novas assinaturas! Teve gente renovando antes do prazo, assinante antigo dizendo que paga com gosto e até quem assinou só pra garantir que sigamos existindo neste modo estranho e por vezes constrangedor: mensal, impresso, independente e levemente debochado. Foi um reforço importante ao nosso caixa — que não é mágico, mas vive de gente que acredita.
Assim, tudo caminha para o primeiro mês de 2025 em que teremos algum superávit, que logo será revertido em... mais gastos! É que estamos ampliando a nossa rede de distribuição para o RelevO chegar em mais pontos. Na página 23 da edição de julho, destacamos o nosso Mapa de Distribuição, que garante exemplares gratuitos em mais de 25 unidades federativas do Brasil — entre 5 e 10 para cada ponto —, uma operação custeada por nossos assinantes, que podem escolher as categorias de assinatura que contemplam o investimento em tais ações.
A distribuição ampla em quase 300 espaços — atualizaremos 30 no mapa de agosto — é o nosso meio de fazer o Jornal chegar a quem não tem condições de nos assinar ou simplesmente não nos conhece, afinal nem nossos pais sabem exatamente o que fazemos há quase 15 anos. Portanto, se você não nos assina, cogite fazer parte dessa curiosa experiência analógica de comunidade. [A saber, estamos tentando evitar o uso de “analógico” e de “comunidade” nos últimos tempos.]
Assine o RelevO!
Geralmente, o RelevO tem entre 10 a 15 anunciantes por mês. São editoras, livreiros, autores divulgando seus livros, cafeterias e coletivos literários. Até mesmo anúncios de perseguição ao coisa-ruim já tivemos:
Os valores variam de R$ 100 a R$ 500 por edição, com descontos para assinantes. De tempos em tempos, recebemos pepitas como esta:
“Olá, Jornal, tudo bem? Espero que sim e que este e-mail te encontre bem. Minha proposta seria anunciar em alguma parte do seu jornal uma pequena declaração para a minha amada. Gostaria de saber valores e se vocês gostam de café!”
Além de gostarmos deste tom de porta aberta para os bons afetos (e de café), você sabia que a diagramação do seu anúncio é cortesia da casa? Isso mesmo: você paga pelo espaço e a arte fica por nossa conta.
Sabemos que alguns deixam de anunciar porque não têm um layout pronto ou já se estressaram tentando fazer algo no Canva e terminaram com algo similar a um convite de formatura de 2002. No RelevO, esse drama não existe. Nossa equipe de designers (formada pelo Bolívar Escobar) cuida disso com carinho, talento e tipografia de gente fina. Quer anunciar? Fale com a gente — e deixe o visual por nossa conta. Basta responder a este e-mail!
Aliás, o Bolívar, que recentemente completou um ano de diagramação do Jornal — e certamente vocês viram o impacto disso nas últimas edições —, fez um memorial das escolhas tipográficas do nosso periódico, tanto das atuais como das próximas. Um prato cheio para designers e curiosos:
“Não se mexe em time que está ganhando. Às vezes, no entanto, não sabemos como está o placar do jogo. Nesses casos, tudo bem dar uma mexidinha, para ver o que acontece. O ofício da diagramação se descreve, em linhas gerais, como a aplicação de conhecimentos tipográficos na disposição de elementos textuais, pictóricos e esquemáticos em um suporte, seja ele destinado ao impresso ou ao digital. Tal afazer varia um tanto, em espírito, conforme a natureza do material a ser diagramado. Por exemplo, na diagramação dos livros, a tarefa consiste em aproveitar ao máximo o espaço da página, escolhendo fontes que componham belas manchas tipográficas e não extrapolem os custos de impressão. Para layouts virtuais, o problema do espaço dá lugar ao problema do ritmo: na rolagem infinita das telas, a tipografia deve convidar o leitor a reconhecer o tempo e a ordem de leitura em ambientes nos quais a atenção é um recurso em disputa.
Para o RelevO, a diagramação é uma negociação entre a quantidade de texto para cada página e os demais elementos que precisam dialogar com ele: as ilustrações dos artistas convidados, os anúncios e o que mais for surgindo de surpresa. O desafio do diagramador é tentar deixar cada elemento “respirar”: organizar tudo que se destina ao retangulóide de 28 por 32 centímetros, respeitando as margens e os espaços em branco que geram o equilíbrio que tanto agrada aos leitores (dizem).
Não há muito segredo em relação a esse aspecto. As estrelas do show serão sempre os textos, em seu conteúdo, e as ilustrações. São poucos os elementos gráficos que os acompanham pelas páginas. Um ou outro fio separador, alguma criatividade na hora de criar numerações de capítulos ou subtítulo e pronto. Na página 2, com a ajuda do Flourish, trazemos também alguns gráficos. Há poucos ícones, usados para representar as seções fixas do periódico. A caneca de café quente representa o editorial, embora um copo de uísque seria mais fidedigno. O guarda-chuva protege o ombudsman das possíveis bolinhas de papel arremessadas pelos leitores. O conselho editorial ganhou um ícone também: um óculos, porque eles precisam ler coisas e isso cansa as vistas.
Por muito tempo, o RelevO usou a fonte Bembo para compor o corpo de texto. Essa era a fonte que conferia materialidade aos contos, poemas e ensaios enviados pelos autores. Uma bela fonte de estilo renascentista: serifada, com leve angulação para a esquerda em seu eixo compositivo, com algarismos oldstyle obedecendo às linhas de ascendentes e descendentes do restante dos outros caracteres. Seu desenho contemporâneo foi elaborado pela fundição britânica Monotype nos anos 1920, buscando como inspiração os traços do tipógrafo renascentista Aldo Manúcio, que desenhou várias letras para sua oficina de impressos localizada na Veneza do século 16.
A versão da Bembo empregada pelo Jornal tinha apenas quatro variações: regular, itálico, negrito e itálico-negrito. A partir da edição de agosto, a Bembo dá lugar à fonte Newsreader, desenvolvida em 2021 pela equipe da fundição parisiense Production Type e distribuída a partir dos critérios da iniciativa Open Font License (v.1.1). Isso significa que o RelevO é livre para usar seus estilos em composições impressas e digitais gratuitamente. A Newsreader tem 3 famílias de fontes, com 14 estilos cada uma. Isso nos dá uma considerável liberdade para explorar composições, combinando itálicos e regulares com diferentes pesos, engrandecendo a diversidade visual dos textos dos nossos autores. Essa fonte carrega a difícil tarefa de garantir a legibilidade de parágrafos em tamanhos pequenos, providenciando que os caprichos dos editores do periódico sejam acatados. Vamos ver se ela não tirará lágrimas dos globos oculares que por aqui passearão.
Os títulos dos textos, por outro lado, não tem uma fonte definida porque estamos já há algumas edições fazendo experimentos. Cada novo volume do relevo elege um ou mais estilos para personalizar os títulos. Um pequeno disclaimer na página 2 traz os créditos para os tipógrafos escolhidos. Acreditamos que isso dá a cada edição um tempero próprio.
O Jornal ainda conta com uma fonte auxiliar, usada para legendas, cabeçalhos, nomes de autores e demais informações que acompanham os textos. Até o momento, a face tipográfica Avenir era a escolhida para o papel. Desenhada nos anos 1980 pelo famoso designer Adrian Frutiger, essa fonte é uma releitura da Futura, uma letra popular desde o início do século 20 e de autoria de Paul Renner. A Futura trazia formas geométricas para suas letras, respeitando um estilo minimalista no qual a economia dos traços simbolizava uma busca por uma suposta eficiência comunicacional — um espírito da “forma que deve seguir a função” que ditou muitas das decisões dos designers modernistas que optaram por eliminar serifas e modulações de traços presentes nas letras que estavam desenhando. A Avenir tentava respeitar essa tradição ao mesmo tempo, em que resgatava a organicidade das letras humanistas que a precederam.
Agora, o RelevO substitui a Avenir por uma família de fontes chamada Work Sans, projetada pelo tipógrafo australiano Wei Huang em 2020. Wei Huang acredita que desenhar letras é uma forma de meditação. A grande vantagem da Work Sans é que, ao mesmo tempo em que mantém as características das fontes grotescas (o aspecto geométrico e a baixa modulação dos traços), ela faz uso da tecnologia das fontes variáveis. A maioria dos softwares de composição de layout, hoje em dia, permite manipular fontes variáveis a partir de comandos numéricos. Ou seja, a Work Sans é configurada em valores que vão de 100 a 900, representando diferentes pesos. Isso permite que a utilizemos de formas bastantes diversas, tornando-a extremamente versátil. A Work Sans também é disponibilizada por meio da Open Font License.
Essa padronização tipográfica, quando aplicada nas páginas do RelevO, obedece a um grid de 12 colunas, que se adapta para receber textos em duas, três ou quatro colunas, dependendo da sua densidade ou tamanho. O importante, nessas horas, é tentar manter uma identidade entre as páginas, para não deixar o leitor perdido achando que um texto está com alguma parte faltando ou que seu jornal veio incompleto. Não eliminamos a possibilidade disso acontecer, claro, mas é importante que, em termos de diagramação, não restem tais ambiguidades.
O último elemento que compõe o projeto gráfico do RelevO são as pequenas gravuras que aparecem acompanhando os números das páginas, no cabeçalho, ou também, muitas vezes, ilustrando os textos das páginas centrais. Trata-se de imagens de jornais, livros e revistas que caíram no domínio público e estão disponíveis em bibliotecas digitais gratuitamente. Após um rápido tratamento, elas estão aptas a compor as mensagens secretas que estou tentando enviar aos meus colegas foragidos por meio das páginas deste impresso.”
Em julho, enviamos os exemplares dos assinantes no dia 2, terça-feira, por volta das 9h. Estamos com algumas reclamações com os Correios do Rio de Janeiro (pra variar…) e do Norte, principalmente Manaus. Sempre que você estranhar a não chegada do Jornal no prazo habitual, avise-nos. É assim que monitoramos a qualidade do serviço da estatal, que, com os seus problemas e limitações, ainda é a mais eficiente e barata forma de fazer o nosso impresso chegar nos mais distantes recônditos do Brasil no espaço sideral de um mês.
Ademais, seguimos em busca de ampliar o alcance do nosso trabalho, fugindo, na medida do possível, do apocalipse festivo do compositor italiano Umberto Tozzi, mais conhecido por aqui na versão oitentônica da Rádio Táxi e noventônica da Banda Eva: “Olha só, hoje o Sol não apareceu / É o fim da aventura humana na Terra / Meu planeta, adeus”.

Agora sai do chão!
Abraços,
Daniel Zanella
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