Valhalla
Eu ousei escrever
Agora leia-me
Sem rancores
Sem dissabores
***
Eu simplesmente ousei
Ser eu mesma
Existir sem afetações
Sem medos
Sem neuras
Sem rumos
***
Sim!
Eu ousei compor
Não em belas-letras
Não em belas-artes
Não em línguas mortas
***
Eu ousei beijar ardorosamente
Na boca a minha colega
De trabalho
Como um algo banal
Não como um ato de libertação
Da minha ebúrnea
Torre de marfim
***
Eu escrevi
Agora leia-me
Sem paixões
Sem pressas
Pois eu fui buscar
O meu Santo Graal
Em belas-artes
Em belas-letras
Texto de Clarisse Cristal, bibliotecária, poetisa e cronista em Balneário de Camboriú, Santa Catarina.
Cotidiano: Naquela noite
Naquela noite, não restava mais nada, a minha mente foi voltando ao normal, enxerguei a vida, não tinha mais medo de ficar presa no meu subconsciente. Fui enxergando aos poucos, onde tinha me perdido e fui me encontrando. Deu uma vontade grande de chorar, quis voltar, mas não havia mais nada, apenas destroços e meus versos feitos nas madrugadas.
Como é triste e dolorido, saber que deixamos de viver por meras ilusões, como é triste saber que perdemos tempo, pois pelo menos eu perdi. Agora nada faz sentido, é como um relógio empoeirado, quebrado, pregado na parede e preso no tempo. E quando realmente acordei, eu não lembrava de mais nada, precisava cuidar de mim, do meu psicológico.
Naquela noite, não ouvia mais as vozes, nas quais me perturbavam tanto, não havia sombras do passado. Naquela noite, eu acordei e resolvi viver. Foi preciso a arte me esmagar para que eu pudesse sentir que tenho alma, e sede de vida...!
Texto de Fabiane Braga Lima, é novelista, contista e poetisa em Rio Claro, São Paulo.
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
Refém
Fez-me refém de tua loucura, o grito contido e o desejo omitido. Preciso possuir teu corpo. Insanidade! És tu a primícia, que ofereço aos deuses, és o mistério, que toma o meu corpo, que invade os meus desejos mais libidinosos, transbordando me dê vasta saudade.
Mas não lhe sinto, se escondes em versos profanos, heresia, me faz teu atroz pecado! Imploro! Deixe-me sentir teu corpo sobre o meu. Diga-me se é loucura, uma fantasia o que sinto!? Não me torture assim.
Afasta-se do nada mais que de repente! Deseja-me intensamente, para depois me ignorar por completo. Juro-te, eu não consigo desvendar, as tuas inúmeras faces, nem ao menos lhe esquecer. Complexidade, que alimenta a paixão, que aos poucos me machuca, minha cura, sem juras...! Desatino ou destino!?
Texto de Fabiane Braga Lima, é novelista, contista e poetisa em Rio Claro, São Paulo.
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
Minha mãe é preta
Da minha cor
Eu tiro a força
Da minha mãe
Que na sua esperança
Por dias melhores
Viu seu filho morto
Na cruz da opressão;
Na minha mãe
Memórias e traços da nossa história
Escritas na pele
De quem só conheceu a dor;
Minha mãe é preta
Princesa das favelas
Dos cantos das periferias
Dos sonhos da nossa negritude.
Diante da submissão
E do olhar perverso
Entoa o canto dos orixás;
Com os olhos voltados
Para o filho excluído
Julgado e condenado;
Açoitado na terra da desigualdade;
Guerreira e rainha do mar
Algoz da liberdade!
Texto de Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
Adeus carne
O corpo esguio, e o andar rápido, em meio aos corredores e, ela não parecia se importar com o fato de os detentos estarem perfilados e, de cara para a parede, enquanto ela passava. O fato já não o intrigava mais, Maria da Saudade, com seus olhos verdes sedutores e seus quarenta e poucos anos de idade.
Já se foi, pouco mais de um ano que fizera sua primeira visita ao seu filho no cárcere. No primeiro dia ela ficou sabendo, como as coisas ali se procediam e ela ficou feliz e amargurada, ao mesmo tempo. Hoje, ela está especialmente feliz, pois estava enfim chegando o dia da soltura de seu filho e, amargurada de ainda ao vê-lo ali preso naquele inferno. E hoje, ao visitá-lo, foi o encontrá-lo amuado em seu cubículo.
– Filho, o que foi?
– Ora bolas, o que foi? – disse o jovem irritadiço – Quero sair deste inferno mãe! É que quero acertar umas continhas fora daqui...
– Tu vais sair logo meu filho! – As palavras saíram em tom acalentador dos lábios de Maria.
Ver o filho em tal estado, não era uma coisa que ela estava preparada. Mas, era sempre assim, todas as sextas-feiras, um recomeçar, uma agonia sem fim, uma vez por semana e todo o mês. A princípio, ela pensava que o filho morreria, em dois tempos naquele lugar infernal. Mas, logo soube que o comando criminoso, que domina o presídio, havia suspendido, todo e qualquer acerto de contas ali dentro. As broncas deveriam ser resolvidas, bem longe dali, do lado de fora. Isto devido à superpopulação de presídio.
– O advogado, disse que tu vai sair no mês que vem filho.
O que Maria da Saudade não sabia, era que o comando criminoso, que de fato manda no presídio, fizera uma acareação, entre seu filho e o Josué de Guimarães Travasso, o ''Nego preto'', que fora preso logo após o filho da Maria cair na rua. O Patrão queira saber da bronca entre os dois elementos. E ele deixou bem claro, que as diferenças entre os dois seriam acertadas fora do presídio.
O Patrão ficou contente, por saber que quem dera o tiro que matou um casqueiro qualquer fora o Nego preto e o filho de Maria da Saudade ficou quieto durante todo o inquérito e o processo que o arrolou como homicida. O filho de Maria da Saudade assumiu uma crime que não cometera. E agora que o Nego Preto estava na rua, uma coisa não sai da cabeça do filho de Maria da Saudade.
***
Ao subir na ''ziquinha'', Josué de Guimarães Travasso, vulgo Nego Preto, só pensava no lucro que teria à noite. Repassar sua cota de drogas e ficar de boa com o Trinta e oito. Mesmo preso Trinta e oito administrava os corres nas ruas e as bocas deveriam prestar contas, pois o chefe não aturava atrasos e desculpas.
Mas de repente, em sua mente criminosa, um pressentimento lhe invade a alma. Um mau presságio, e a figura do prego que estava pagando cadeia no seu lugar, vêm em sua mente. Preto não sabia se o comédia já estava para ser solto ou não. Vender a arma, para ele, foi uma tacada de mestre, justo a arma que usara para apagar aquele laranja, que lhe devia uma boa quantidade de craque.
– Ligo ''pros'' irmãos mais tarde, pra saber do lance! – Disse Josué para si mesmo. E ao chegar bem em frente, da escola onde estudava, parecia que séculos passaram desde a expulsão de Preto do colégio.
E aquele mau adágio lhe invade com toda a força. E ele não escutou o tiro da arma de fogo, que disparou em sua direção, que o derrubou da bicicleta, mas sentiu o ombro esquerdo arder em chamas. Atônito e atordoado, Nego preto, em sua confusão mental, se vira e, vê uma figura de uma mulher, que lentamente se aproxima. Seu andar era firme e esguio, seus olhos verdes e sem emoção alguma, a lhe fitar bem de perto. Josué de Guimarães Travasso, reconheceu a fisionomia da mulher, só não sabia de onde a conhecia. O Nego preto, que sentia o ombro queimar em brasas, viu a arma apontada a poucos centímetros de sua têmpora e, um brilho laranja esbranquiçado e uma fumaça branca. O odor de pólvora queimada ele não chegou a sentir. Mas, um forte impacto na cabeça o jogou para trás, e ele que sentia o ombro arder em brasas, já não sentia mais nada ao ser lançado ao chão..
Texto de Samuel da Costa, é poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
Brava Gente Brasileira
Amazônia verde sem igual
Índios, agricultores longe do litoral
Cerrado, planície sensacional,
Quem não deseja conhecer
A ilha do Bananal?
Todo mundo louva o pantanal
Nordeste, sofrido e sertanejo
Desigual...
Bahia, a terra do Dorival.
Lacerda, pelourinho medieval
Praias e povo tradicional
Sudeste um mundo à parte
Todo lugar no Rio é arte
País do carnaval!
O outro país do Chimarrão
Lindas gaúchas de plantão
Esporas e churrasco no varal
Tudo nesse mundo brasileiro
é sensacional.
Essa Brava gente Brasileira
Tão diferente e tão igual
Todas elas na mesma
Unidade nacional.
Marcelo de Oliveira Souza,IwA
2x. Dr. Honoris Causa em Literatura
Feliz Dia da Independência!
Do blog: marceloescritor2.blogspot.com
Instagram: marceloescritor
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