Entre versos, prosas e iconografias afins
Enigma
Repugnante sem razão, sou eu sem você.
Então, surge do nada,
Dominada por esse amor desmedido, me entrego.
Encantada com seus mistérios,
E seu jeito de me acalentar em seus braços,
Meu corpo o deseja.
***
De repente, todo desejo desaparece!
Estou enlouquecendo se tornou um vício,
Preciso encontrar os desígnios da sua alma,
Sua melhor parte!
***
Mas, todo esse sentimento é muito forte
Fico estática, como se estivéssemos entrelaçados,
Mas só escuto ecos, apenas ecos.
***
Oculto, sacia-me no silêncio,
Sinto minha pele arder por lhe querer, assim, desmedida.
Profanação! Minha cura e loucura,
Mistérios da alma o grito intenso no silêncio!
Aquieto-me...Penso que nem todas as verdades
São para ser ouvidas,
Nem todas as mentiras, podem ser reconhecida como tais.
Desvendo!? Não ouso....!
Texto de Fabiane Braga Lima, é novelista, contista e poetisa em Rio Claro, São Paulo.
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
Clarice com C: Despedida
Do alto da sua janela Clarice vê uma linda borboleta azul, para alguns crédulos ela é o anúncio da morte que está por vir. Outras vezes que o espírito daquele corpo já se encontra em outro plano espiritual. Mas Clarice encarou aquilo com naturalidade, saiu cantando, deu bom dia para o seu vizinho que passava na rua com a sacola da padaria na mão. Voltando para a cozinha viu Fernando sentado à mesa à sua espera para tomarem junto o café. Ele olha nos seus olhos e diz: - Minha linda Clarice, essa foi a noite mais feliz da minha vida! Foi então que começou a tossir tanto. Clarice perguntou se ele estava bem e se queria algum xarope ou chá para tosse.
Fernando apenas disse para que não se preocupasse, continuou tomando o café. Naquele mesmo instante lhe deu um beijo é disse: - Existe várias formas de amar, mesmo que alguém não te diga eu te amo não quer dizer que não haja esse amor por você. Eu te amei por alguns instantes na sutileza do seu olhar, nas verdades que vingam de suas palavras, no seu jeito de menina buscando o melhor da vida.
Clarice emocionada lhe abraça e Fernando se levanta, pois precisava ir embora. Mas de ir disse mais algumas palavras: - Eu vou, mas sempre estarei contigo de alguma forma.
Texto de Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
Suspensa no ar por asas fracas
Já pensei em demitir
O meu inepto terapeuta behaviorista
Contudo não posso
Não é meu, é de mamãe...
***
Entre tessituras
E notas remissivas
Vastos elementos de ligações
Em textos inodoros afins
Ao final do exaustivo dia, só penso
Em tirar o meu sutiã apertado
E me atirar na cama
***
Já pensei seriamente
Em de demitir
O terapeuta behaviorista
Da minha querida mamãe
Para resolver todos
Os meus comportamentos-problemas
Que surgem no cotidiano da minha vida
Mas por hora é mais prático
Levantar da cama
E ir até o roupeiro cor-de-vinho
E escolher com que roupas
E vou ao trabalho amanhã
Pela manhã bem cedo
***
Devo sim demitir terapeuta
De mamãe
Para ela deixar de ser
A mariposa fútil que realmente é
Eternamente suspensa
No ar por débeis asas fracas
Rodopiando confusa
Em torno de uma lâmpada de led
Texto de Clarisse Cristal, bibliotecária, poetisa e cronista em Balneário de Camboriú, Santa Catarina.
Doze anos depois...
''Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. ''
1 Coríntios 15:56
Uma olhada rápida no espelho, e ela mal pode acreditar nas marcas que o tempo imprimira em seu belo corpo. E parada diante do espelho, ela está, linda e sensual, vestida de lingerie vermelha exuberante! E seu amante, está na cama deitado de bruços, complacentemente, ele parece dormir um sono tranquilo profundo.
Até ali, foram doze anos de agonia e também de puro prazer, para os dois, logo ambos não poderiam reclamar de nada. Pois o que é o sexo para os amantes clandestino? Senão uma estranha conjunção entre o amor e a dor, entre o divino e o profano!
Se alguém pedisse para ela, definir a sua relação com o seu amante casado, seria assim que ela o definiria: – ''Um ponto onde o amor e o ódio se encontram''. E acrescentaria mais: — ''Seria como um ponto obscuro na vida da gente, que às vezes parece que vai durar para sempre! Só que às vezes dura mesmo''! — E as marcas em seu corpo são prova disso tudo, são cicatrizes profundas no corpo e na alma.
E ela parada diante do espelho, fumando seu cigarro tranquilamente, pensando no que fizera há poucos minutos. Pensando no corpo imóvel do seu amásio sem vida, deitado na cama. E na mesa de centro, que ainda conserva os dois copos de uísque barato, com as pedras de gelos dentro, que deveria ser para ambos desfrutarem, depois do prazer. Sylvia desconsolada encosta uma arma em sua têmpora...
Samuel da Costa é poeta, contista e funcionário público em Itajaí, Santa Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
Clarice com C: Morte
Clarice sempre foi uma jovem ativa e que se importava muito com as pessoas que ama, não seria diferente com o Fernando. Depois daquela noite incrível ficou dois dias sem nenhuma notícia sua. Então saiu pelo bairro a procura de informações até que dobrando a esquina da padaria encontrou a médica que falava com ele dias atrás.
Ela foi logo direto ao assunto e perguntou sobre o Fernando. A médica olhou nos seus olhos, deu um forte abraço e disse: - Você precisa ser forte, Fernando faleceu na tarde desta terça-feira. Ele estava muito doente.
Clarice atordoada foi embora para a casa e no seu quarto derramou suas lágrimas. Mas fora um momento breve, lembrou do que Fernando tinha lhe dito, que estaria com ela de alguma forma. Então Clarice pegou o seu livro e na penúltima página dizia: - A vida é um sopro, abrimos a janela todos os dias sem saber o que irá nos acontecer, mas não é por causa dessa incerteza que vamos deixar de viver.
Texto de Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
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