Brian: adeus meu querido
Jane sentiu uma vontade enorme de fumar um cigarro e beber uma champanhe, a executiva sênior nunca suportou o hábito de homens do mundo dos negócios celebrarem suas conquistas com charutos e uísque. Jane preferia um bom champanhe e uma tragada de um cigarro aromático.
Jane procurou no bolso e encontrou seu maço de cigarros, puxou um até a boca, sacou de um isqueiro e pensou da visita que daqui a pouco chegaria. Mas antes, ela saiu do confortável escritório e andou poucos passos, Jane olhou a concessionária do segundo andar. A gerente executiva e sócia proprietária olhou a sua equipe trabalhando, as mudanças que ela fez estavam funcionando bem.
— Berta! Não sensualize tanto! — Falou Jane no rádio comunicador, a funcionária estava atendendo um rico empresário. Brian tinha contratado meia dúzia de modelos para atender os ricos clientes, como não entendiam nada de carros e motores, Jane contratou uma equipe especializada de vendas de carros e mecânicos para dar aulas para as modelos. Jane olhou o recém espaço para veículos esportivos e motocicletas, os vendedores antes usavam rígidos uniformes impecáveis brancos. Jane trocou os uniformes por confortáveis roupas informais para atender famosos surfistas, esqueitista e jovens empresários ricos. Até o departamento de veículos elétricos e de carros populares e usados estava indo bem, apostar nas diversidades deu novos ares à concessionária.
No outro lado na rua a loja de bicicletas daqui a pouco seria inaugurada, em suma a vida profissional estava indo bem. E Jane olhou para o relógio e pensou que não falta muito.
— Andreas! Nas escuta? Deixe-o passar! Entendido? — Falou Jane no rádio ao seu chefe de segurança.
Jane voltou para o seu escritório e sentou na confortável cadeira, a executiva de meia idade olhou no relógio de pulso. E ele entrou pela porta e ele estava vestido com um uniforme de zelador. O homem estava nervoso e Jane apertou um botão embaixo da mesa.
— Calma Brian, meu querido! — Falou Jane de forma calma e levou um cigarro até a boca, tragou e aspirou a fumaça no ar. Os olhos de Lince apavoraram Brian. — Já que tenho um bom cargo aqui na empresa, quero ajudá-lo.
— Serei breve! — Falou o desesperado Brian.
— Brian, esqueci de lhe contar algo. — Disse Jane com um tom glacial na voz
— Então me diga a verdade! Somente a verdade mulher! — Falou Brian como se sussurrasse um segredo bem guardado ao pé do ouvido de um confidente.
— Tu esqueceu de desligar as câmaras do escritório, no nosso último encontro! Pobre da Susan, que viu tantas e tantas traições.
— Mulher falsa e repugnante és. Maldita sejas! — Esbravejou Brian a plenos pulmões. A acústica do escritório trancafiou o brado do antigo dono da concessionária.
Jane se levantou da cadeira e andou lentamente até Brian, Jane deu-lhe um beijo no rosto, forçado, e colocou em seu bolso o anel de noivado com sua resposta.
— Jamais me casaria com um homem imundo do teu tipo! — Jane sussurrou no ouvido de Brian e continuou — Sorte que Susan descobriu sua verdadeira identidade. Espere, quanto a vaga de emprego que lhe propus é de faxineiro, terá muitos vasos sanitários para limpar...! E gostei que tenha vindo me visitar a caráter. Vejo que mudou mesmo. Bom, deixe seu currículo na portaria, eu entrarei em contato assim que possível. — Jane apertou o botão embaixo da mesa e dois corpulentos seguranças apareceram para escoltar o ex-patrão porta a fora.
Em um último ato Jane prendeu os cabelos, sem ao menos se despedir olhou para Brian com um misto de ódio e desprezo. Ela se considerava vítima de muita mentira e traição. Hoje, apesar da pouca idade todos a respeitam na empresa. Jane aprendeu a se valorizar.
Uma vez sozinha ela lembrou dos passos que a levaram até ali, primeiro foi a colega de trabalho, outra vítima de Brian. Ela era uma excelente executiva que se perdeu de amores por Brian e ele a seduziu, a usou por um bom tempo e a descartou sem aviso prévio. E foi ela que confidenciou sobre os negócios escusos de Brian com senhores italianos, gregos, colombianos e mexicanos. E foi ela que alertou Jane sobre as práticas de Brian, do diário íntimo de cada conquista, de cada caso que teve ao longo dos anos. A colega de trabalho deu detalhes de cada reunião que Brian tivera com os estrangeiros e Jane partiu para vasculhar os labirintos contábeis da concessionária. E tudo estava lá, a arrogância e certeza da impunidade, Brian deixará vestígios claros de seus negócios escusos. E do diário íntimo, a ex-amante de Brian, calculou que estava bem guardado em um cofre particular em um banco. Não o estúpido do Brian, pensou Jane e não precisou muito para encontrar o diário de Brian em uma gaveta no escritório do próprio Brian.
Brian sempre desligava as câmeras de segurança, todas as vezes que recebia uma amante. Jane recuperou as imagens do último encontro entre eles e Jane cobrou o próprio rosto nas imagens.
Provas reunidas, Jane teve uma longa conversa com Susan, a esposa de Brian. Jane confirmou um boato que rondava Brian, que ele tinha um sócio que era o real dono da concessionária e toda a fortuna de Brian. Susan e Jane se entenderam bem. E fechar a lavanderia de dinheiro de Brian não foi difícil, assim como denunciá-lo para as autoridades. Brian desapareceu, nunca mais foi visto depois da visita a sala de Jane.
Texto de Fabiane Braga Lima, é novelista, contista e poetisa em Rio Claro, São Paulo.
Contato: debragafabiane1@gmail.com
Brian: a verdade
Brian mal sabia que Jane havia descoberto seu segredo bem guardado, segredo no qual ele escondia de todos e todas, inclusive de Jane. Brian na verdade era casado, há anos. Jane Descobriu através de uma colega de trabalho, que conhecia Brian por anos. A colega em questão, a chamou em uma repartição da concessionária, que passava por reformas e se encontrava abandonada naquele começo de manhã de uma segunda-feira. Não foi fácil para Jane ao confrontar com a realidade, Jane que morria de amores por Brian, ela chorou, pois o amava profundamente aquele homem.
Até que, no decorrer da semana, Jane resolveu confrontar Brian. E como se tudo estivesse bem entre eles, ela bateu de leve na porta do escritório de Brian.
— Estava com muita saudade — Disse Jana, com uma voz doce tentando seduzi-lo.
— Jane, minha garota, que bom que voltou, tire sua roupa e vamos nos amar aqui mesmo! — falou Brian quase sussurrando e com o olhar cheio de desejo.
Jane trancou a porta do escritório e baixou as persianas
— Tirasse as tuas roupas, pois tinha uma surpresinha. — Disse Jane e um tom ríspido e profundo. Brian se despiu obedecendo às ordens de Jane. Só que ele tinha se esquecido das câmeras de segurança, que havia mandado instalar no escritório ressentimento
Continua...
Texto de Fabiane Braga Lima, é novelista, contista e poetisa em Rio Claro, São Paulo.
Contato: debragafabiane1@gmail.com
Carta de Repúdio à Violência contra Genivaldo
Matar um homem negro inocente é lamentável! Usando de força desproporcional os policiais da Polícia Rodoviária Federal, PRF, que o trancaram dentro de um camburão de uma viatura e jogaram gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Os agentes da força de segurança mantendo a porta da viatura fechada, impedindo com que ele, a vítima saísse, vindo ele mais tarde a óbito por asfixia.
Então fica a pergunta: Até quando o povo pobre e negro será agredido gratuitamente? Até quando aceitaremos calados a discriminação? Até seremos mortos e ainda ouviremos de um grupo de pessoas que a vítima era um marginal?
O que será que passou na cabeça desses policiais rodoviários ao ponto de matarem de forma violenta e desumana um homem honesto? Genivaldo era um trabalhador muito querido, por todos na cidade de Umbaúba no interior de Sergipe, região que vive da agropecuária, que movimenta a economia da cidade.
Genivaldo tinha problemas mentais e se valia de medicamentos psiquiátricos para o tratamento que estava fazendo administrado pelo médico psiquiátrico. Enfim, o que aconteceu é que Genivaldo pegou a motocicleta emprestada de sua irmã para levar uma compra que ele tinha efetuado. No trajeto ao seu destino ele é abordado por não estar de capacete, e de maneira violenta como bem sabemos os policiais federais rodoviários o agrediram, o algemaram e já o imobilizaram. Depois o jogaram dentro de uma viatura onde ele ficou preso e na sequência jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo o impedindo de respirar devido a fumaça tóxica do gás. Lembrando a todos que o Presidente do Brasil em suas carreatas automobilísticas não usa capacete infligindo a lei, ou seja as leis brasileiras não servem para todos.
Cedric de Oliveira Felipe é produtor cultural em Jacareí, São Paulo
Whatsapp (012) 92000-3186
Clarisse Cristal na realidade liquefeita
Os outros são um detalhe alheio,
A nós mesmo,
As nossas próprias existências liquefeitas
Parada diante do estúdio de tatuagens, Clarisse Cristal tomou fôlego por segundos, e por fim decidiu entrar no recinto. Medos, dúvidas e muitos receios agora eram coisas de um passado remoto, que se desvanecia no ar, com o clarão da luz do dia. O eviterno temor de sentir as dores e as subsequentes marcas indeléveis no corpo e na alma, já não existiam mais.
— Tu vais ficar aí? Parada por muito tempo guria? Espantando a minha querida e fiel clientela! — A voz fluiu melodiosa pelo ar, apesar do tom grave, das palavras proferidas, que saíram do interior do estúdio, atingiram em cheio a bibliotecária.
Clarisse Cristal, adentrou e sentiu uma estranha sensação de nostalgia, a percorrer-lhe o corpo por inteiro, ao ser tragada pela escuridão da antessala do estúdio de tatuagens. Ela esqueceu totalmente do celular, de último modelo, que a mãe lhe deu de presente no último aniversário, há um tempo, não muito distante. O aparelho moderno, jazia eternamente em mil nanos-pedaços, no meio de uma rua movimentada qualquer. A culpa, de fato, não foi da jovem bibliotecária, pois o aparelho vibrou e depois tocou alto, tocou alto e depois mais alto ainda, assim que ela saiu da livraria e editora, em que trabalhava. Clarisse Cristal, logo imaginou a cena toda se desenrolando, Anna Victória ligando, em prantos para mamãezinha querida dela, em seguida uma conversa breve, chorosa, ríspida e bem rápida. E esta última ligando para a mãe de Clarisse, que liga furiosa para a filhotinha rebelde e malcriada. A moça então põe fim ao melodrama bufo, espatifando o moderno aparelho no meio da rua apoplética, com muita força, sem sequer atendê-lo. O círculo tragicômico por fim estava mais que quebrado, quando o aparelho encontrou o seu destino final.
O estúdio de tatuagens era amplo e moderno, com vários espaços, separados por biombos decorativos orientais, eram diversos estúdios menores dentro de um grande estúdio. Clarisse Cristal logo percebeu ao fundo, no ambiente maior, uma grande lousa digital na lateral esquerda do amplo estúdio, vários cavaletes, de muitos tamanhos espalhados aqui e ali. Bancadas de vidro temperado, dispondo de notebooks de última geração, pendrives variados, cartões de memória, tabletes todos de vários modelos e tamanhos, máquinas fotográficas digitais e analógicas de vários preços, modelos e marcas. Vários estojos de lápis aquarelável supracolor, muitas latas de sprays de tintas, também de várias cores, tamanhos, marcas e preços. Por fim vários quadros inacabados, em vários movimentos artísticos e de escolas de belas artes de várias épocas mundo afora. Era uma bagunça muito bem organizada, ali funcionava uma estranha mistura de escola de belas artes com estúdio de tatuagens, deduziu Clarisse.
— Então! O que te traz, ao meu humilde comércio? — Foi a dona do lugar surgindo do nada , ela fez a pergunta de maneira afável, como se fosse uma bem treinada vendedora de loja varejo de um distante bairro popular.
Clarisse deu uma boa olhada na moça, já tinha visto pessoas assim em revistas, filmes, reportagens na TV, em livros ou mesmo vagando perdidamente pelas ruas. A pessoa era uma figura andrógina e estava afrontosamente de pé bem diante dela. Alta, pele amendoada, com os olhos castanhos brilhantes. Longos cabelos lisos e negros reluzentes, usava uma camisa física preta sem estampa. Esmalte cintilante negro despontavam nas unhas curtas e bem-feitas, exclusivas calça larga e tênis personalizado de esqueitista profissional e na casa dos vinte anos de idade. Mas, a voz melodiosa e cheia de vida, a pele sedosa e o sorriso delicado denunciavam que era uma mulher em definitivo.
— Quero fazer uns riscos e furar as minhas orelhas também, minha querida e mais nada! Um tanto óbvio! Tu aceitas cartão? — Clarisse riu sozinha, com a própria tentativa patética de ser engraçada e espontânea. — O que são os outros? Nada mais um mero detalhe, alheio a nós mesmos, as nossas existências liquefeitas! — Clarisse Cristal, leu com um tom de voz alta e de forma imponente, a frase que estava pintada na parede do lado direito, cada palavra estava escrita com cores diferente e com fontes manuscritas diferentes. — Coisa de marqueteiro medíocre, metido a poeta frustrado é o que me parece! Qual é o teu nome afinal de contas?
— Podes me chamar de Cris...
— Já sei, sua humilde criada, pronta para lhe servir!
— Mais ou menos isto, começa a falar logo menina, seja mais específica. O que queres de facto? O que tu pensas em fazer, neste corpinho lindo de fada alquebrada que Deus te deu?
— Quero fazer uma tatuagem tribal de dragão, no meu braço direito e por um piercing na orelha e outro no umbigo!
Cris deu uma risada teatral e longa, Clarisse também seguiu a tatuadora. E foi assim por quase um minuto. Cris foi até a porta da loja e colocou o aviso de fechado, foi até um telefone, instalado no balcão de atendimento e foi fazer uma chamada rápida. Cris desligou o telefone celular e o tablet, virou para Clarisse Cristal e apontou para um amplo biombo bambu, era o ateliê particular da tatuadora. Clarisse sorriu, estava encantada com o fato de ter enfim um momento só seu, um momento recoberto de mistério e caótico, bem longe da segurança rotineira da torre de marfim.
Samuel da Costa é contista e funcionário público em Itajaí, Santa Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
Talzes/Maybe
Poetisa irrequieta e adorada
Talvez deveríamos trocar correspondências
Não as de hoje em dia
Inodoras, insípidas
E lacônicas
E sim as velhas correspondências
Lânguidas e lentas
Compostas à meia luz
De candeeiros e lamparinas
Ou mesmo ditadas pelo matraquear
Da mecanografia
Ou molhada no pico da pena
E finalizada no mata-borrão
***
Talvez deveríamos trocar
Correspondências
Não as de hoje em dia
Pois seriam mesmo velhas
Então, vamos simplificar
Este texto
Que tal!?
Palavras onde ninguém
Mais ninguém
Precisasse consultar o dicionário
***
Sim concordo
Mas sou apegada
Em belas-letras mortas
Ao som inaudível
De noturnas sinfonias lânguida e lenta
Arrastada
Sim, vamos trocar impressões
Em paraísos artificiais
Na distância mais que segura
***
Ditadas com amor
Ou desamores
Como gênios da literatura
Onde o clássico nunca morre
Que tal!?
O movimento simbolista
E esquecer o nosso falso
Surreal
***
Doravante sejamos
Nós duas mulheres livres
Doravante ousamos brilhar
O brilho fúlgido dos astros mortos
***
Sim, seria o certo
Não o duvidoso
Mas o natural...!
Texto de Fabiane Braga Lima, poetisa e contista em Rio claro, São Paulo.
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Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
Texto de Clarisse Cristal, poetisa e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Que Sejamos Luz
Às vezes precisamos romper
Algumas coisas nessa vida,
Talvez fechar alguns ciclos
Que não nos fazem bem.
Andar em direção ao vento
E dançar como se não houvesse amanhã.
Encarar o espelho
Mesmo que o cabelo esteja despenteado
E dar gargalhadas de si.
É sempre bom começar com alegria.
Precisamos de novos começos
Para que tudo fique estável,
Mas a estabilidade é uma das coisas
Que não é perfeita nesta vida,
Mal sabemos ser estáveis.
Só espero que tenhamos
A capacidade de sermos luz
Para quebramos toda
E qualquer escuridão.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
Sobre o livro nagô das negras
Não foi nada fácil escrever este livro, encarar o silêncio de muitas mulheres sofridas, fazer com que elas me contassem suas histórias e que tivessem confiança em mim. O livro vem para dar voz a tantas mulheres negras. Ele passa pelo período escravocrata e vai até os dias atuais.
Escrevendo este livro eu pude perceber várias particularidades que todas nós mulheres negras temos, o preconceito por causa do cabelo, o preconceito por causa da cor da pele, a difícil aceitação por nós mesmas e a nossa família, a alta afirmação diante da sociedade, o salário bem abaixo do homem, a aceitação do corpo e difícil luta contra a sociedade machista.
A nossa história passa pela relação do ser criança, do ser filha, do ser mulher, do ser mãe. Depois a nossa relação com o mercado de trabalho.
Mas por que o título Nagô das Negras?
Primeiro que a palavra Nagô tem o sentido de caminho e toda essa ideia de caminho traz a percepção do quanto a mulher negra andou e tanto tempo que ela levou para chegar até aqui conquistando espaços.
Com tudo isso a mulher negra passa pelo processo da aceitação e depois pelo processo de como lidar com o racismo, seja racial ou estrutural.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
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