A NOTÍCIA
O telefone tocou. Atendi. Era o Sr.
Lotário.
- Simone? – perguntou a voz
masculina.
- Sim. Pois não. – respondi
automaticamente.
- Bom dia, Simone!
- Oh! Bom dia, Sr. Lotário! –
retruquei alegre, pois há quase dez anos trabalhei numa empresa, na qual o Sr.
Lotário era diretor e meu chefe. Tempos bons aqueles...
- Puxa! Reconheceu minha voz depois
de tanto tempo? – disse-me entre incrédulo e feliz.
- Bom, não tenho uma notícia boa
para te dar. – continuou, agora com outro tom de voz.
- É... Imaginei isso, Sr. Lotário...
Já faz tanto tempo que não nos vemos e não conversamos. Para o senhor ligar
aqui em casa, deve ser uma notícia muito importante. – respondi seriamente,
procurando uma cadeira para sentar, já prevendo que não seria uma boa notícia.
- Então... hã... bem... – titubeou. Não
sabia como entrar diretamente no assunto sem me assustar ou magoar.
Já estava assustada, com os olhos
arregalados, coração acelerado, suor nas palmas das mãos. Criei coragem:
- Pode falar, Sr. Lotário.
- Tá. Aconteceu um assalto no
Cartório do 7º Ofício e o Sadi estava lá. Pronto! Falei! – despejou ele ao
telefone.
- E daí? Ele foi assaltado também?
Houve tiros? Alguém se machucou? – perguntei aflita.
Silêncio
do outro lado da linha.
- Sr. Lotário, o Sadi foi ferido?
Está machucado?
O silêncio continuou.
Meu amigo Sadi... Sadi era meu
companheirão: colega na empresa e amigo fora dela. Lembrando-me dele, recordo
das viagens, passeio de trem, risadas, banho de cachoeira, acampamentos, bares,
cervejinha. Para mim, ele continua sendo meu amigo do peito. Penso sempre no
Sadi com carinho e recordo-me com saudade daqueles bons momentos. Em poucos
segundos revi toda nossa amizade, que continua até hoje, mesmo que a falta de
tempo e oportunidade não nos tem deixado tão próximos como gostaria.
- O que aconteceu com o Sadi? Alô!
Sr. Lotário! O senhor continua na linha? – nesse momento já estava quase
gritando e andando de um lado para o outro da sala. Aquele silêncio me
enervava, afligia, queria uma resposta!
- Sim. – respondeu com um “sim”
fraco, sem vida, sem vontade de falar, parecia que estava arrependido de ter me
telefonado, mas não podia deixá-lo desligar. Ele tinha que me contar o que
acontecera.
- O Sadi está ferido? Machucado? Ele
morreu? – nesse momento eu já estava chorando.
- Sim. – respondeu-me tristemente.
Fiquei sem fala, sem resposta e
desliguei chorando, não acreditando no que eu acabara de saber.
Acordei com o rosto banhado de
lágrimas. Suspirei aliviada. Fora apenas um pesadelo. Mesmo assim fui correndo
telefonar para o Sadi para saber se estava tudo bem com ele.
Simone Possas
(escritora gaúcha de Rio Grande-RS,
membro da Academia de Letras do
Brasil/MS, ocupando a cadeira 18,
membro correspondente da Academia
Riograndina de Letras,
membro da UBE/MS – União Brasileira de
Escritores,
autora dos livros MOSAICO, A MULHER QUE RI, PCC e O PROMOTOR
graduada em Letras pela UCDB,
pós-graduada em Literatura,
contista da Revista Criticartes,
blog: simonepossasfontana.wordpress.com)
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