A BOIADA DO AZAMBUJA
Governador, eu também tenho um parente lá no Rio Grande de
sobrenome Azambuja. Por sinal é uma grande família espalhada por lá, mas este é
especial, chama-se Laerte Azambuja, é
fazendeiro, casado com a minha prima a Matilde Domingues, porém o coitado do
parente na meia idade, logo que se aposentou como funcionário público, ficou
cego e a esposa é seu norte.
Ele tem uma fazendola em Encruzilhada do Sul, herdou outra
dum tio-avô em Rio Pardo e por cima tem um criatório de asininos em Bossoróca.
Mas bueno, vamos por partes, a patroa carrega ele pra tudo
quanto é arremate de gado, pois ele gosta de ver em pensamento aquele gritedo
do leiloeiro, e se tiver por acaso uma
novilha, uma vaca ou um touro brasino, não importa o preço, a Matilde lasca o
cheque, e o brasino vai pra fazendola, porque ele sempre gostou do gado desse
pêlo, pois olha no campo e vê tudo amarelo listrado de preto, parece até uma
tigrada de bengala, o Ibama não deixou ele criar um, mas entre galgos e
ovelheiros, tudo brasino, tem mais de três dúzias, e falando nisso, até as
galinhas ele tentou abrasinar, colocou umas rodes e polacas, e uma vintena de
galo Catalão, mas não deu certo, no entanto, entreverado assim no terreiro,
preto com amarelo, parece tudo brasino,
até a Matilde, fica brasina quando ele passa o laço nela na cama.
Num belo dia desses, despontando a primavera, chegaram por lá
de helicóptero da FAB, uns compradores de gado da tal de Friboi, e ele
entusiasmou-se devido a propaganda do Toni Rama, e como soube por um vizinho que o dito comprador é filho
do homem, e até a Presidenta avaliza os negócios dele, entabulou
negociação. Conversa vai, conversa vem,
queriam comprar todo o seu gado brasino, pois só de tapete daquela pelagem iam
fazer fortuna. Dona Fulana ia fazer a venda, pois ela tem cidadania italiana,
mas não se acertaram no preço, o Laerte, para não vender mesmo os seus
brasinos, pediu três vezes mais o preço da arrouba em Araçatuba.
Depois de uns mates e churrasco ao meio dia e de nova
tentativa de compra fracassada, perguntaram se ele não tinha Devon preto para
vender, ai ele se interessou, queriam 100.000 bois, e pagavam a vista. Ele
balanceou a situação, fez de conta que olhava longe com pena de vender a boiada
de Rio Pardo e lascou: “se o negócio serve pra vocês, eu vendo 70.000 Devon
preto e completo a carga de cem com 30.000 bubalinos, pode ser”?
Negócio fechado, os magnatas do Centro Oeste ficaram para
jantar um carreteiro e de sobremesa uma pessegada com leite, nesse meio tempo, perguntaram se por acaso ele não tinha ovelhas
para vender.
O Laerte pigarreou, sentado no seu banco em cima dum pelegaço
brasino, meio sem jeito e respondeu: “chegaram tarde. Eu tinha depositado na
beira trilhos de Cacequi a Livramento, 1.250 carretel de velo de primeira, mas
chegaram os Australianos e arremataram e levaram em vinte e cinco composições
toda aquela lãnzinha para o Porto de Montevidéu, cedido melo Mujica, e junto se
foi a nossa ovelhama toda, coisa de 300 mil, pois os cangurus tinham um
compromisso com a Síria e a Arábia Saudita. Aquela gente, dizem, só comem
borrego curdo e cordeiro cristão.
Mas seu Laerte, como o senhor sabe, lá pras nossas bandas de
São Paulo e Minas Gerais, ainda se precisa de muitos asininos, na cidade, nas
praias, nas carvoarias, nos canaviais,
nos laranjais, na caatinga, e agora
nessa seca, mais ainda, para carregar as pipas dos açudes para os Paulistanos,
então, por acaso o senhor nos indica algum grande produtor?
Não há de que, estão falando com o próprio.
Acho que já faz mais de quinze anos que eu tenho esse
criatório de burros e mulas lá em Bossoroca, é o meu centro exportador, o
Capataz é o Olivo Dutre, mas não é uma criaçãozinha qualquer, é especial, pois
importei da chácara do Salvador lá do Tile, uns burrão espanhol e uma mulada
ruana, especial, comem pouco, só de milhão pra cima, pois tem só dois dentes, é
uma cruza de lhama com mula, apelidei de “mulama”...de quantas mil o Diretor
vai precisar?
Os Goianos montaram no helicóptero da FAB e se foram à base
aérea de Camobi em Santa Maria e contrataram não sei quantos jumbos da Embraer,
para levaram os 70 mil Devons, 30 mil búfalos, e a mulada seguiu de trem e
caminhões para Minas Gerais.
Tempos depois seu Laerte Azambuja, soube que a sua mulada,
fizera o maior sucesso, principalmente nas Minas Gerais, pois não é que
resolveram cruzar a mulada mineira de dois dentes com os jegues do nordeste, e
ganharam até a eleição!?
Odilon
Garcez Ayres
11.11.2014. Membro
da APL-RS e da ALB-MS.
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