quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Os angicos estão morrendo

Por Odilon Garcez Ayres
Flor de Angico-Vermelho
Imagem: portalsaofrancisco.com.br
Dava gosto de ver ao fim da tarde, a revoada de um bando de caturritas no Monte Líbano, e após o seu bailado coreográfico, pousavam alegres e parladeiras numa frondosa árvore na Rua do Catete, 171, onde pernoitavam tranquilas e seguras.
De repente desapareceram, pensei que fosse pelo inverno, mas não, o proprietário ou a sanha desmedida de uma imobiliária, assassinou a luz do dia, a cinquentenária árvore, sem que ao menos seus vizinhos a defendessem, e o poder público fosse avisado, penso eu.
De onde venho, aprendi com meus avós a gostar e a preservar as árvores, não importando o seu nome ou seu porte...e me dou conta agora... que talvez pela vero semelhança, Angico, queira significar “pequeno anjo”!
Calculo que eles tenham sido plantados por um visionário a mais de trinta anos neste monte, de cujo nome são famosos os cedros de Salomão, e alguns, ainda enfeitam ruas e avenidas desta cidade amiga e hospitaleira, entretanto:
Em dois anos que aqui estou, não vi um único ente do poder público, plantando, replantando, podando ou cuidando das árvores que nos foram legadas, só vejo, ignorância e descaso, como um vivente, ignorante, mandando podar as árvores de sua rua, na lua cheia, quando se sabe, que a água que a alimenta está em seus tronco e galhos, e a poda, a pode matar.
Poda, desbaste, seja lá o que for, se faz na lua minguante!
Na rua Otaviano de Souza, esquina com Rui Barbosa, uma frondosa árvore, macho, de cachos, amarelos ouro, simplesmente veio abaixo de inopino.
Na Aníbal de Toledo esquina com o Águia de Haia, o angico simplesmente foi morrendo aos pouquinhos, definhou e morreu, coberto em suas raízes de uma trepadeira matadeira.
Na rua da Liberdade, uma foi sacrificada em frente ao condomínio, e na frente da Associação dos Odontólogos, talvez, para não sujar os carros no estacionamento, uma mangabeira, foi aparada, como quem corta melancia ao meio.
Um mês depois, o proprietário 785, matou a centenária mangabeira!
E pasmem, na esquina do Rui, bem defronte ao Mercado, em aterrado canteiro, a municipalidade deixa a mostra a sua incompetência ou desinteresse, o tronco de três metros de um angico, aparado ao meio, parece um totem sem placa de Prefeito.
Quadras abaixo, outro esqueleto de angico continua seco, inerte, morto, a espera de que seja retalhado, serrado e enterrado, sem caixão e sem nome nalguma fornalha.
Só para darem satisfação à sociedade, esperamos que essas situações sejam verificadas, multadas e punidas com o replantio, de no mínimo cem árvores, para cada uma que foi abatida injustamente.

Odilon Garcez Ayres
OGA. 14.06.2015. Escritor
Membro da APL-RS e da ALB-MS.

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