quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A questão dos bugres

Por Odilon Garcez Ayres

Parece, não, os brancos tem preconceito contra nossos bugres, acham que não devemos restituir suas terras porque eles são indolentes, preguiçosos e cachaceiros, que não produzem soja, e por ia vai a cantilena.

Preconceito ou razões a parte, entendo que os bugres tem direito atávico ao seu quinhão de terra, por utis possidetis de facto, pois seus ancestrais ali fizeram morada e os arianos, os europeus que aqui chegaram, as piratearam ao seu bel prazer, e hoje se acham no direito de não devolverem um por cento do tudo, que prearam!

Se verificarmos o livro do Padre Techauer de 1918, sem precisarmos recorrer a outros tantos jesuítas e historiadores, veremos que eles habitaram em número considerável primeiramente os 32 povos de 1630 por um século, preados, depois voltaram as suas terras no período dos 7 povos das Missões, o que fica claro que eles tem direito a um rincão em
Santo Ângelo, São João, São Miguel, São Luiz Gonzaga, Candelária, São Martinho da Serra, Santiago, Ijuí, São Borja, Carázinho, Soledade e Passo Fundo.

A mais emblemática é a redução de Santa Tereza, pois assim como fizeram nos jornais de Passo Fundo de 1923, 30 e 1932, algum interessado na primazia da informação, surrupiou a Carta Anua de Buenos Ayres, justamente aquela onde citava a Redução de Santa Tereza, onde constava sua localização exata com latitude e longitude, inclusive.

Mas, como o dito popular, o danado faz a panela mas esqueceu a tampa, outros historiadores, afirmam, embora arqueologicamente, oficialmente, nenhum trabalho foi feito nesses sítios da grande Passo Fundo, para afirmar categoricamente, aqui é Santa Tereza do Ygay, bispando daqui e dali, o Mato Castelhano é logo ali, o Povinho Velho e da Entrada, a Cruzaltinha com um tambaqui...o Campo do Meio, é outro sinal, criatório
de gado dos jesuítas, afirmando os padres que ali nas cercanias se reuniram com Guaraé (Cuarahyhesapé), para depois emigrarem para o rincão do Pessegueiro, com vestígios até no Pulador, onde frutificou e depois foi destruída por Andrés Fernandes, sendo que os que se escaparam, formaram outra aldeia na Ronda Alta, onde há vestígios contundentes na granja de um Passo-fundense.

Os guaranis, vieram do Caribe, caminhando sempre, fazendo roça, Amazônia abaixo via rios, sem cansar a terra, por mais de mil anos, me parece que eram mais campesinos do que os Botocudos, os Coroados, hoje ditos Caingangues, levados pelo Brasil na Guerra do Paraguai, justamente contra os Guaranis, eram os nossos bugres do mato, que hoje, inverteram os papéis, aos contrário de seus irmãos, aculturaram-se rapidamente, e são muito espertos, para não dizer muito inteligentes, a ponto de hoje ocuparem altos cargos na administração federal.

Prova disso é que quando ganharam a reserva de Cacique Doble ou São José do Ouro, ocuparam primeiramente as melhores terras, e jogaram os guaranis lá nos fundões, o que os obrigou depois de umas peleias a saírem dali e ocuparem uma beira de estrada em Getúlio Vargas, para não sucumbirem de todo, como contou-me a anciã Tereza.

Precisamos de gente honesta para resolver essa questão que envolve a nossa honra nacional...quer queiram ou não...eles são uma reserva moral...uma reserva genética, e acima de tudo, um exemplo de vida, um exemplo de como conseguiram viver em harmonia coma mãe natureza por um milênio ou mais, coisa que o Europeu só consegue vendo terra arrasada como o nordeste do Pau Brasil!

Ainda há Rondons, Apoenas, Vilas Boas, Darcis e Alencares no Brasil!

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