domingo, 25 de março de 2018

A NOTÍCIA


A NOTÍCIA

            O telefone tocou. Atendi. Era o Sr. Lotário.
            - Simone? – perguntou a voz masculina.
            - Sim. Pois não. – respondi automaticamente.
            - Bom dia, Simone!
            - Oh! Bom dia, Sr. Lotário! – retruquei alegre, pois há quase dez anos trabalhei numa empresa, na qual o Sr. Lotário era diretor e meu chefe. Tempos bons aqueles...
            - Puxa! Reconheceu minha voz depois de tanto tempo? – disse-me entre incrédulo e feliz.
            - Bom, não tenho uma notícia boa para te dar. – continuou, agora com outro tom de voz.
            - É... Imaginei isso, Sr. Lotário... Já faz tanto tempo que não nos vemos e não conversamos. Para o senhor ligar aqui em casa, deve ser uma notícia muito importante. – respondi seriamente, procurando uma cadeira para sentar, já prevendo que não seria uma boa notícia.
            - Então... hã... bem... – titubeou. Não sabia como entrar diretamente no assunto sem me assustar ou magoar.
            Já estava assustada, com os olhos arregalados, coração acelerado, suor nas palmas das mãos. Criei coragem:
            - Pode falar, Sr. Lotário.
            - Tá. Aconteceu um assalto no Cartório do 7º Ofício e o Sadi estava lá. Pronto! Falei! – despejou ele ao telefone.
            - E daí? Ele foi assaltado também? Houve tiros? Alguém se machucou? – perguntei aflita.
Silêncio do outro lado da linha.
            - Sr. Lotário, o Sadi foi ferido? Está machucado?
            O silêncio continuou.
            Meu amigo Sadi... Sadi era meu companheirão: colega na empresa e amigo fora dela. Lembrando-me dele, recordo das viagens, passeio de trem, risadas, banho de cachoeira, acampamentos, bares, cervejinha. Para mim, ele continua sendo meu amigo do peito. Penso sempre no Sadi com carinho e recordo-me com saudade daqueles bons momentos. Em poucos segundos revi toda nossa amizade, que continua até hoje, mesmo que a falta de tempo e oportunidade não nos tem deixado tão próximos como gostaria.
            - O que aconteceu com o Sadi? Alô! Sr. Lotário! O senhor continua na linha? – nesse momento já estava quase gritando e andando de um lado para o outro da sala. Aquele silêncio me enervava, afligia, queria uma resposta!
            - Sim. – respondeu com um “sim” fraco, sem vida, sem vontade de falar, parecia que estava arrependido de ter me telefonado, mas não podia deixá-lo desligar. Ele tinha que me contar o que acontecera.
            - O Sadi está ferido? Machucado? Ele morreu? – nesse momento eu já estava chorando.
            - Sim. – respondeu-me tristemente.
            Fiquei sem fala, sem resposta e desliguei chorando, não acreditando no que eu acabara de saber.
            Acordei com o rosto banhado de lágrimas. Suspirei aliviada. Fora apenas um pesadelo. Mesmo assim fui correndo telefonar para o Sadi para saber se estava tudo bem com ele.

Simone Possas
(escritora gaúcha de Rio Grande-RS,
membro da Academia de Letras do Brasil/MS, ocupando a cadeira 18,
membro correspondente da Academia Riograndina de Letras,
membro da UBE/MS – União Brasileira de Escritores,
autora dos livros MOSAICO,  A MULHER QUE RI, PCC e O PROMOTOR
graduada em Letras pela UCDB,
pós-graduada em Literatura,
contista da Revista Criticartes,
blog: simonepossasfontana.wordpress.com)



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