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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A arte de criticar


A crítica no Brasil, segundo Afrânio Coutinho, nasceu por volta dos anos 50. Foi o derradeiro momento em que aconteceu um despertar do verdadeiro entendimento do que vem a ser uma verdadeira crítica e o verdadeiro sentido diante da arte, da literatura, do cinema, do teatro, da dança, da pintura e demais seguimentos artísticos.
“A história aponta Tucídides, o grego, como talvez o primeiro a apontar ideias críticas. Questiona -se: “Será Tucídides o primeiro a aplicar métodos críticos, como o cruzamento de dados e fontes diferentes. O estudo histórico começa, quando os homens encontram os elementos de sua existência, nas realizações dos seus antepassados”. (...)
A crítica jornalística focando a política é sempre conhecida como charge e aborda geralmente a política, em uma forma muito sarcástica de se dizer algumas verdades.
Certamente, o crítico deveria ser um profissional especializado, a fim de se redigir textos, matérias, artigos fundamentados em base de profundo conhecimento do tema a ser criticado, onde ele analisa criteriosamente o objeto ou o dono desse objeto a ser criticado de forma positiva ou a chamada forma negativa.
 A crítica cultural, literária é sempre a mais comum e termina nas mãos de muitos críticos, que assumem o arriscado poder de alavancar ou destruir carreiras, de escritores, jornalistas, poetas, roteiristas, enfim, dos profissionais das letras. De forma que é de suma responsabilidade esse trabalho, já que termina por influenciar as grandes massas a terem uma opinião formada. E uma vez formada é como lançar uma catapulta ao céu ou ao inferno.
Seria audácia afirmar, mas a arte em geral, necessita de certa forma, da crítica, assim como a crítica necessita da arte. Nenhuma caminha só. Mas, o que assistimos nos dias atuais é uma verdadeira aberração social. É como se o artista fosse completamente dependente e necessitasse ser visto e analisado pela ótica crítica, para se conceber um título de doutorado e assim, ser aceito e respeitado no seu meio, onde atua. Infelizmente, o que se percebe no decorrer das décadas, é que a maioria, tanto o que se diz crítico, como o criticado, ainda não sabe sequer o verdadeiro significado do que venha a ser criticar.
Entende-se por crítica, algo estritamente negativo e destrutivo. De forma que muitos desconhecem que a verdadeira critica está embasada em uma observação criteriosa de censurar, de julgar, ou apreciar e que deveria ser feita somente por grandes estudiosos de determinado assunto, objeto ou pessoa a ser criticado. Na verdade, que a legítima crítica, deveria ser entendida sempre como positiva, quando vem de um verdadeiro critico, ainda que aponte observações tidas como negativas.
Ainda que analisando superficialmente, o que se percebe de imediato; aos aportes difamatórios de desaprovação que termina soando aos ouvidos artísticos, é uma pejorativa decadência linear, que tende a crescer a partir desse aporte que é dado a um tema, como uma calunia, injuria, injustiça quando se trata de dizeres mal analisados, mal estruturados de mesquinharia, causadas por pequenos grupos de meros invejosos disfarçados de críticos.
Já que a crítica puramente chamada de “negativa” nada mais é que uma análise infundada em falsos conceitos e de falta de preparo do tido crítico. Em realidade, nada mais é que a chamada "crítica destrutiva", teoricamente, segundo os trabalhos de acadêmicos nessa área de comunicação e mídia moderna (onde a Universidade de Brasília, possui uma vasta coleção de livros sobre esses assuntos), não existe; e são por conta da má interpretação, que extrapola os limites da racionalidade, o chamado “crítico aloprado”.
Assim, diversos, escritores, poetas, jornalistas, dançarinos, pintores, artesãos, cantores, compositores, atores, roteiristas, profissionais do cinema, do teatro, às vezes, se encontram completamente desmotivados de prosseguir. Muitos suportam encarar certas barbaridades ditas sem escrúpulos, sem sentimentos, sem respeito e seguem em frente. Como também existem os que não nasceram para suportar esses desafios cruéis da nossa sociedade. O saber ouvir é difícil, ainda mais ouvir ofensas, ouvir até desacatos em redes sociais, em revistas, jornais, em TV. É um tema reflexivo, a arte do saber perder, e do saber ganhar, do saber ouvir e do saber falar, são essas talvez, as artes de maior genialidade humana.
É bem provável também que sejam esses alguns dos motivos que mais se veem no meio artístico, deprimidos, suicidas, dependentes químicos. Alguns grandes gênios, outrora tidos como “loucos” provavelmente tenham também sido vitimados por bombásticos comentários maliciosos, que consequentemente culminaram em agravar suas “loucuras”.
Há sempre os que se enveredam para um caminho sem volta. O índice de artistas e escritores usuários de drogas, anfetaminas, álcool, cigarros e outros elementos entorpecentes, muitas das vezes, a culpa de tudo isso, vem dos chamados derrotistas sociais, que infectam o meio artístico e literário ao acreditarem estar no direito de atacar, usando o nome de críticos! Os que atiram pedras em telhados de vidro e não sabem se enxergar primeiramente diante do espelho. 
Encarar a crítica, talvez seja tão difícil como saber criticar. Seria como uma dicotomia devassa, já que a arte nasceu para ser vista e ouvida, lida e interpretada, mas jamais escondida dentro de armários e de sonhos não concretizados. Ao mesmo tempo em que a arte necessita ser avaliada, existe do outro lado o medo da não aceitação, que seria a tal chamada crítica negativa, que obviamente jamais deveria ser destrutiva, onde muitos usam palavras muito arrogantes e de puro desrespeito. Há os que acreditam no velho ditado conformista que diz: “Falem mal, mas falem de mim”! Não seria esse um ponto crucial que mostra como a arte em sua necessidade nata de divulgação, de análise de observação, de valor, de aprovação, se lança às vezes num ridículo precipício, de uma dura pena de morte? 
Uma vez dado o veredicto de que algo ou alguém não é bom o suficiente, se torna muito difícil reverter o quadro da situação, em mentalidades inseguras de se auto analisar, acreditando depender de meras opiniões alheias, quase sempre de pessoas despreparadas, de um determinado tema ou objeto a ser interpretado, o direito e dever de dar o seu último parecer. Portanto, se não vem de um especialista em crítica, melhor não criticar. Porque são poucos os capacitados nessa área, assim como os que sabem lidar de frente e de cabeça erguida, diante dessas “críticas” que sempre afrontam a vida da arte e do artista.
A chamada critica destrutiva, que de crítica nada tem, deveria ser banida da nossa sociedade pós-moderna, já que nada acrescenta de positivo na vida da arte nem do artista. São meros frutos de perdedores incapacitados de percepção e autopoder de depreciação. A verdade é que esses, lamentavelmente até hoje, não entenderam o verdadeiro sentido de ser crítico! Lembrando que nenhum artista é verdadeiramente dono de sua arte, já que uma vez pronta e entregue ao mundo, ela passa a ter um domínio público, ainda que a lei dita que somente após 70 anos da morte do autor da obra, ela passa a ser doada ao mundo. A arte nasceu para ser admirada e não guardada. Mas deixe que os verdadeiros e bons críticos tenham a competência justa para criticá-las! Porque ainda com tantas vicissitudes... “Todo artista tem de ir aonde o povo está”.

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